O chamado greenwashing, quando empresas se promovem como sustentáveis sem de fato adotar práticas ambientais responsáveis, chegou aos gramados. Para enfrentar o problema, a Universidade Scuola Superiore Sant’Anna, de Pisa, lançou o Projeto GARFIELD, em parceria com clubes europeus como Aris (Grécia), Betis (Espanha), Hoffenheim (Alemanha) e Porto (Portugal). A iniciativa, financiada pela União Europeia, quer aumentar a transparência e coibir discursos ambientais falsos no futebol.
No esporte, o greenwashing costuma vir acompanhado do sportswashing, prática em que governos e empresas usam o futebol para limpar a própria imagem. Casos como o patrocínio da Aramco à Fifa, revelado pela Forbes, reacenderam o debate. A petroleira saudita, maior emissora de CO₂ do planeta, é acusada de descumprir o Acordo de Paris.
Segundo o coordenador do GARFIELD, professor Tiberio Daddi, o objetivo é ajudar clubes a comunicar com base em dados concretos, evitando exageros ou falsas promessas. “Organizações esportivas precisam entender que sustentabilidade exige fundamentos sólidos, não apenas discurso”, afirmou.
O projeto também conta com a Sport Positive, ONG que apoia ações climáticas no esporte. Sua fundadora, Claire Poole, destacou que o greenwashing pode ocorrer até de forma “acidental” quando clubes não integram a pauta ambiental em todos os setores.
O GARFIELD, sigla para Greenwashing Avoided through Reporting: Football Initiative for Environmental Leaders Development , pretende desenvolver uma ferramenta de monitoramento e capacitação para clubes, além de organizar eventos sobre transparência.
Para Fausto Scaldaferri, especialista em sustentabilidade do Betis, a transparência é chave para a credibilidade: “Quando há exageros, perdem-se torcedores, patrocinadores e confiança institucional.”
O projeto tem duração inicial de 30 meses, com planos de expansão. Ele também busca alinhar o futebol europeu à Diretiva de Relatórios de Sustentabilidade Corporativa (CSRD), que exige que empresas, e clubes, relatem seus impactos ambientais até 2028.
De acordo com um estudo das universidades de Toulon, Groningen e Dortmund, apenas 23% dos patrocínios ‘verdes’ no esporte entre 2010 e 2024 foram realmente sustentáveis. Para o professor Simon Chadwick, especialista em economia esportiva, o recado é claro: “Mais do que negar o greenwashing, o futebol precisa cortar laços com poluidores e reduzir sua própria pegada ambiental.”